Presidência
da República |
MEDIDA PROVISÓRIA No 65, DE 28 DE AGOSTO 2002.
Convertida na Lei nº 10.559, de 2002 | Regulamenta o art. 8o do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e dá outras providências. |
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 62 da
Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:
CAPÍTULO I
DO REGIME DO ANISTIADO POLÍTICO
Art. 1o O Regime do Anistiado Político compreende os
seguintes direitos:
I - declaração da condição de anistiado político;
II - reparação econômica, de caráter indenizatório, em prestação única
ou em prestação mensal, permanente e continuada, asseguradas a readmissão ou a
promoção na inatividade, nas condições estabelecidas no caput e nos §§ 1o e
5o do
art. 8o do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias;
III - contagem, para todos os efeitos, do tempo em que o anistiado político
esteve compelido ao afastamento de suas atividades profissionais, em virtude de punição
ou de fundada ameaça de punição, por motivo exclusivamente político, vedada a
exigência de recolhimento de quaisquer contribuições previdenciárias;
IV - conclusão do curso, em escola pública, ou, na falta, com prioridade para
bolsa de estudo, a partir do período letivo interrompido, para o punido na condição de
estudante, em escola pública, ou registro do respectivo diploma para os que concluíram
curso em instituições de ensino no exterior, mesmo que este não tenha correspondente no
Brasil, exigindo-se para isso o diploma ou certificado de conclusão do curso em
instituição de reconhecido prestígio internacional; e
V - reintegração dos servidores públicos civis e dos empregados públicos
punidos, por interrupção de atividade profissional em decorrência de decisão dos
trabalhadores, por adesão à greve em serviço público e em atividades essenciais de
interesse da segurança nacional por motivo político.
Parágrafo único. Aqueles que foram afastados em processos
administrativos, instalados com base na legislação de exceção, sem direito ao
contraditório e à própria defesa, e impedidos de conhecer os motivos e fundamentos da
decisão, serão reintegrados em seus cargos.
CAPÍTULO II
DA DECLARAÇÃO DA CONDIÇÃO DE ANISTIADO
POLÍTICO
Art. 2o São declarados anistiados políticos aqueles que, no
período de 18 de setembro de 1946 até 5 de outubro de 1988, por motivação
exclusivamente política, foram:
I - atingidos por atos institucionais ou complementares, ou de exceção na
plena abrangência do termo;
II - punidos com transferência para localidade diversa daquela onde exerciam
suas atividades profissionais, impondo-se mudanças de local de residência;
III - punidos com perda de comissões já incorporadas ao contrato de trabalho
ou inerentes às suas carreiras administrativas;
IV - compelidos ao afastamento da atividade profissional remunerada, para
acompanhar o cônjuge;
V - impedidos de exercer, na vida civil, atividade profissional específica em
decorrência das Portarias Reservadas do Ministério da Aeronáutica no
S-50-GM5, de 19 de junho de 1964, e no S-285-GM5;
VI - punidos, demitidos ou compelidos ao afastamento das atividades remuneradas
que exerciam, bem como impedidos de exercer atividades profissionais em virtude de
pressões ostensivas ou expedientes oficiais sigilosos, sendo trabalhadores do setor
privado ou dirigentes e representantes sindicais, nos termos do § 2o do
art. 8o do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias;
VII - punidos com fundamento em atos de exceção, institucionais ou
complementares, ou sofreram punição disciplinar, sendo estudantes;
VIII - abrangidos pelo Decreto Legislativo no 18, de 15 de
dezembro de 1961, e pelo Decreto-Lei no
864, de 12 de setembro de 1969;
IX - demitidos, sendo servidores públicos civis e empregados em todos os
níveis de governo ou em suas fundações públicas, empresas públicas ou empresas mistas
ou sob controle estatal, exceto nos Comandos militares no que se refere ao disposto no §
5o do art. 8o do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias;
X - punidos com a cassação da aposentadoria ou disponibilidade;
XI - desligados, licenciados, expulsos ou de qualquer forma compelidos ao
afastamento de suas atividades remuneradas, ainda que com fundamento na legislação
comum, ou decorrentes de expedientes oficiais sigilosos.
XII - punidos com a transferência para a reserva remunerada, reformados, ou,
já na condição de inativos, com perda de proventos, por atos de exceção,
institucionais ou complementares, na plena abrangência do termo;
XIII - compelidos a exercer gratuitamente mandato eletivo de vereador, por
força de atos institucionais;
XIV - punidos com a cassação de seus mandatos eletivos nos Poderes Legislativo
ou Executivo, em todos os níveis de governo;
XV - na condição de servidores públicos civis ou empregados em todos os
níveis de governo ou de suas fundações, empresas públicas ou de economia mista ou sob
controle estatal, punidos ou demitidos por interrupção de atividades profissionais, em
decorrência de decisão de trabalhadores;
XVI - sendo servidores públicos, punidos com demissão ou afastamento, e que
não requereram retorno ou reversão à atividade, no prazo que transcorreu de 28 de
agosto de 1979 a 26 de dezembro do mesmo ano, ou tiveram seu pedido indeferido, arquivado
ou não conhecido e tampouco foram considerados aposentados, transferidos para a reserva
ou reformados;
XVII - impedidos de tomar posse ou de entrar em exercício de cargo público,
nos Poderes Judiciário, Legislativo ou Executivo, em todos os níveis, tendo sido válido
o concurso.
§ 1o No caso previsto no inciso XIII, o período de mandato
exercido gratuitamente conta-se apenas para efeito de aposentadoria no serviço público e
de previdência social.
§ 2o Fica assegurado o direito de requerer a correspondente
declaração aos sucessores ou dependentes daquele que seria beneficiário da condição
de anistiado político.
CAPÍTULO III
DA REPARAÇÃO ECONÔMICA DE CARÁTER
INDENIZATÓRIO
Art. 3o A reparação econômica de que trata o inciso II do
art. 1o desta Medida Provisória, nas condições estabelecidas no caput
do art. 8o
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, correrá à conta do Tesouro
Nacional.
§ 1o A reparação econômica em prestação única não é
acumulável com a reparação econômica em prestação mensal, permanente e continuada.
§ 2o A reparação econômica, nas condições estabelecidas
no caput do art. 8o
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, será concedida mediante
portaria do Ministro de Estado da Justiça, após parecer favorável da Comissão de
Anistia de que trata o art. 12 desta Medida Provisória.
Seção I
Da Reparação Econômica em Prestação
Única
Art. 4o A reparação econômica em prestação única
consistirá no pagamento de trinta salários mínimos por ano de punição e será devida
aos anistiados políticos que não puderem comprovar vínculos com a atividade laboral.
§ 1o Para o cálculo do pagamento mencionado no caput deste
artigo, considera-se como um ano o período inferior a doze meses.
§ 2o Em nenhuma hipótese o valor da reparação econômica
em prestação única será superior a R$ 100.000,00 (cem mil reais).
Seção II
Da Reparação Econômica em Prestação
Mensal, Permanente e Continuada
Art. 5o A reparação econômica em prestação mensal,
permanente e continuada, nos termos do art. 8o do Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias, será assegurada aos anistiados
políticos que comprovarem vínculos com a atividade laboral, à exceção dos que optarem
por receber em prestação única.
Art. 6o O valor da prestação mensal, permanente e
continuada, será igual ao da remuneração que o anistiado político receberia se na
ativa estivesse, considerada a graduação a que teria direito, obedecidos os prazos para
promoção previstos nas leis e regulamentos vigentes, e asseguradas as promoções ao
oficialato, independentemente de requisitos e condições, respeitadas as características
e peculiaridades dos regimes jurídicos dos servidores públicos civis e dos militares, e,
se necessário, considerando-se os seus paradigmas.
§ 1o O valor da prestação mensal, permanente e continuada,
será estabelecido conforme os elementos de prova oferecidos pelo requerente,
informações de órgãos oficiais, bem como de fundações, empresas públicas ou
privadas, ou empresas mistas sob controle estatal, ordens, sindicatos ou conselhos
profissionais a que o anistiado político estava vinculado ao sofrer a punição, podendo
ser arbitrado até mesmo com base em pesquisa de mercado.
§ 2o Para o cálculo do valor da prestação de que trata
este artigo serão considerados os direitos e vantagens incorporados à situação
jurídica da categoria profissional a que pertencia o anistiado político, observado o
disposto no § 4o deste artigo.
§ 3o As promoções asseguradas ao anistiado político
independerão de seu tempo de admissão ou incorporação de seu posto ou graduação,
sendo obedecidos os prazos de permanência em atividades previstos nas leis e regulamentos
vigentes, vedada a exigência de satisfação das condições incompatíveis com a
situação pessoal do beneficiário.
§ 4o Para os efeitos desta Medida Provisória, considera-se
paradigma a situação funcional de maior freqüência constatada entre os pares ou
colegas contemporâneos do anistiado que apresentavam o mesmo posicionamento no cargo,
emprego ou posto quando da punição.
§ 5o Desde que haja manifestação do beneficiário, no
prazo de até dois anos a contar da entrada em vigor desta Medida Provisória, será
revisto, pelo órgão competente, no prazo de até seis meses a contar da data do
requerimento, o valor da aposentadoria e da pensão excepcional, relativa ao anistiado
político, que tenha sido reduzido ou cancelado em virtude de critérios previdenciários
ou estabelecido por ordens normativas ou de serviço do Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS, respeitado o disposto no art. 7o desta Medida
Provisória.
§ 6o Os valores apurados nos termos deste artigo poderão
gerar efeitos financeiros a partir de 5 de outubro de 1988, considerando-se para início
da retroatividade e da prescrição qüinqüenal a data do protocolo da petição ou
requerimento inicial de anistia, de acordo com os arts. 1o e 4o do Decreto no
20.910, de 6 de janeiro de 1932.
Art. 7o O valor da prestação mensal, permanente e
continuada, não será inferior ao do salário mínimo nem superior ao do teto
estabelecido no art. 37,
inciso XI, e § 9o
da Constituição.
§ 1o Se o anistiado político era, na data da punição,
comprovadamente remunerado por mais de uma atividade laboral, não eventual, o valor da
prestação mensal, permanente e continuada, será igual à soma das remunerações a que
tinha direito, até o limite estabelecido no caput deste artigo, obedecidas as regras
constitucionais de não-acumulação de cargos, funções, empregos ou proventos.
§ 2o Para o cálculo da prestação mensal de que trata este
artigo, serão asseguradas, na inatividade, na aposentadoria ou na reserva, as promoções
ao cargo, emprego, posto ou graduação a que teria direito se estivesse em serviço
ativo.
Art. 8o O reajustamento do valor da prestação mensal,
permanente e continuada, será feito quando ocorrer alteração na remuneração que o
anistiado político estaria recebendo se estivesse em serviço ativo, observadas as
disposições do art. 8o do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias.
Art. 9o Os valores pagos por anistia não poderão ser objeto
de contribuição ao INSS, a caixas de assistência ou fundos de pensão ou previdência,
nem objeto de ressarcimento por estes de suas responsabilidades estatutárias.
Parágrafo único. Os valores pagos a título de indenização a anistiados
políticos são isentos do Imposto de Renda.
CAPÍTULO IV
DAS COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS
Art. 10. Caberá ao Ministro de Estado da Justiça decidir a respeito dos
requerimentos fundados nesta Medida Provisória.
Art. 11. Todos os processos de anistia política, deferidos ou não,
inclusive os que estão arquivados, bem como os respectivos atos informatizados que se
encontram em outros Ministérios, ou em outros órgãos da Administração Pública direta
ou indireta, serão transferidos para o Ministério da Justiça, no prazo de noventa dias
contados da publicação desta Medida Provisória.
Parágrafo único. O anistiado político ou seu dependente poderá
solicitar, a qualquer tempo, a revisão do valor da correspondente prestação mensal,
permanente e continuada, toda vez que esta não esteja de acordo com os arts. 6o,
7o, 8o e 9o desta Medida
Provisória.
Art. 12. Fica criada, no âmbito do Ministério da Justiça, a Comissão
de Anistia, com a finalidade de examinar os requerimentos referidos no art. 10 desta
Medida Provisória e assessorar o respectivo Ministro de Estado em suas decisões.
§ 1o Os membros da Comissão de Anistia serão designados
mediante portaria do Ministro de Estado da Justiça e dela participarão, entre outros, um
representante do Ministério da Defesa, indicado pelo respectivo Ministro de Estado, e um
representante dos anistiados.
§ 2o O representante dos anistiados será designado conforme
procedimento estabelecido pelo Ministro de Estado da Justiça e segundo indicação das
respectivas associações.
§ 3o Para os fins desta Medida Provisória, a Comissão de
Anistia poderá realizar diligências, requerer informações e documentos, ouvir
testemunhas e emitir pareceres técnicos com o objetivo de instruir os processos e
requerimentos, bem como arbitrar, com base nas provas obtidas, o valor das indenizações
previstas nos arts. 4o e 5o nos casos que não for
possível identificar o tempo exato de punição do interessado.
§ 4o As requisições e decisões proferidas pelo Ministro
de Estado da Justiça nos processos de anistia política serão obrigatoriamente cumpridas
no prazo de sessenta dias, por todos os órgãos da Administração Pública e quaisquer
outras entidades a que estejam dirigidas, ressalvada a disponibilidade orçamentária.
§ 5o Para a finalidade de bem desempenhar suas atribuições
legais, a Comissão de Anistia poderá requisitar das empresas públicas, privadas ou de
economia mista, no período abrangido pela anistia, os documentos e registros funcionais
do postulante à anistia que tenha pertencido aos seus quadros funcionais, não podendo
essas empresas recusar-se à devida exibição dos referidos documentos, desde que
oficialmente solicitado por expediente administrativo da Comissão e requisitar, quando
julgar necessário, informações e assessoria das associações dos anistiados.
CAPÍTULO V
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS
Art. 13. No caso de falecimento do anistiado político, o direito à
reparação econômica transfere-se aos seus dependentes, observados os critérios fixados
nos regimes jurídicos dos servidores civis e militares da União.
Art. 14. Ao anistiado político são também assegurados os benefícios
indiretos mantidos pelas empresas ou órgãos da Administração Pública a que estavam
vinculados quando foram punidos, ou pelas entidades instituídas por umas ou por outros,
inclusive planos de seguro, de assistência médica, odontológica e hospitalar, bem como
de financiamento habitacional.
Art. 15. A empresa, fundação ou autarquia poderá, mediante convênio
com a Fazenda Pública, encarregar-se do pagamento da prestação mensal, permanente e
continuada, relativamente a seus ex-empregados, anistiados políticos, bem como a seus
eventuais dependentes.
Art. 16. Os direitos expressos nesta Medida Provisória não excluem os
conferidos por outras normas legais ou constitucionais, vedada a acumulação de quaisquer
pagamentos ou benefícios ou indenização com o mesmo fundamento, facultando-se a opção
mais favorável.
Art. 17. Comprovando-se a falsidade dos motivos que ensejaram a
declaração da condição de anistiado político ou os benefícios e direitos assegurados
por esta Medida Provisória será o ato respectivo tornado nulo pelo Ministro de Estado da
Justiça, em procedimento em que se assegurará a plenitude do direito de defesa, ficando
ao favorecido o encargo de ressarcir a Fazenda Nacional pelas verbas que houver recebido
indevidamente, sem prejuízo de outras sanções de caráter administrativo e penal.
Art. 18. Caberá ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
efetuar, com referência às anistias concedidas a civis, mediante comunicação do
Ministério da Justiça, no prazo de sessenta dias a contar dessa comunicação, o
pagamento das reparações econômicas, desde que atendida a ressalva do § 4o
do art. 12 desta Medida Provisória.
Parágrafo único. Tratando-se de anistias concedidas aos militares, as
reintegrações e promoções, bem como as reparações econômicas, reconhecidas pela
Comissão, serão efetuadas pelo Ministério da Defesa, no prazo de sessenta dias após a
comunicação do Ministério da Justiça, à exceção dos casos especificados no art. 2o,
inciso V, desta Medida Provisória.
Art. 19. O pagamento de aposentadoria ou pensão excepcional relativa aos
já anistiados políticos, que vem sendo efetuado pelo INSS e demais entidades públicas,
bem como por empresas, mediante convênio com o referido instituto, será mantido, sem
solução de continuidade, até a sua substituição pelo regime de prestação mensal,
permanente e continuada, instituído por esta Medida Provisória, obedecido o que
determina o art. 11.
Parágrafo único. Os recursos necessários ao pagamento das reparações
econômicas de caráter indenizatório terão rubrica própria no Orçamento Geral da
União e serão determinados pelo Ministério da Justiça, com destinação específica
para civis (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão) e militares (Ministério da
Defesa).
Art. 20. Ao declarado anistiado que se encontre em litígio judicial
visando à obtenção dos benefícios ou indenização estabelecidos pelo art. 8o do Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias é facultado celebrar transação a
ser homologada no juízo competente.
Parágrafo único. Para efeito do cumprimento do disposto neste artigo, a
Advocacia-Geral da União e as Procuradorias Jurídicas das autarquias e fundações
públicas federais ficam autorizadas a celebrar transação nos processos movidos contra a
União ou suas entidades.
Art. 21. Esta Medida Provisória entra em vigor na data da sua
publicação.
Art. 22. Ficam revogados a Medida
Provisória no 2.151-3, de 24 de agosto de 2001, o art. 2o, o § 5o do art. 3o,
e os arts. 4o e 5o da
Lei no 6.683, de 28 de agosto de 1979, e o art. 150 da Lei no 8.213, de 24 de
julho de 1991.
Brasília, 28 de
agosto de 2002; 181o da Independência e 114o da
República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Geraldo Magela da Cruz Quintão
Paulo de Tarso Ramos Ribeiro
Guilherme Gomes Dias
Este
texto não substitui o publicado no D.O.U. de 29.8.2002